O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou nesta quinta-feira (10) que a guerra de tarifas comerciais desencadeada pelos Estados Unidos, sob a liderança do presidente Donald Trump, gera tanto riscos quanto oportunidades para o Brasil. A declaração foi dada durante conversa com jornalistas na saída de um seminário sobre cooperativismo, na sede do banco público de fomento, no Rio de Janeiro.
Segundo Mercadante, as medidas protecionistas adotadas pelos EUA, que impuseram tarifas sobre produtos importados como estratégia para proteger a economia americana, provocam instabilidade econômica global. “A economia precisa de previsibilidade e o tarifaço, como estão sendo chamadas as decisões de Trump, foi unilateral e sem negociação prévia ou consideração das instituições multilaterais de comércio. Então gerou uma grande instabilidade econômica e financeira”, destacou.
Trump chegou a suspender por 90 dias a cobrança adicional para a maioria dos países, mas manteve a sobretaxação de produtos chineses em mais de 100%. Para Mercadante, essa tensão entre as duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e China, vai gerar “muitas sequelas” e impactar o comércio internacional.
Apesar do cenário preocupante, o presidente do BNDES vê possibilidade de ganhos para o Brasil. Ele apontou a agropecuária e a indústria como setores que podem se beneficiar das mudanças na dinâmica comercial global. “Esse cenário de instabilidade traz riscos, nós temos que estar muito atentos, mas traz também oportunidades”, afirmou.
Mercadante destacou ainda que o Brasil, por ser um país pacífico e com boas relações internacionais, especialmente com os membros da ONU, pode atrair mais investimentos estrangeiros. “Vai ter mais diversificação e há uma grande demanda por segurança alimentar no mundo. O Brasil é uma solução para esse problema”, disse, lembrando a previsão de uma supersafra agrícola no país.
Em relação à indústria, o economista celebrou a retomada do Brasil à 25ª posição em um ranking internacional de desempenho industrial. Ele citou avanços em setores de alto valor agregado, como a fabricação de aviões, veículos e carros híbridos, além do aumento no número de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) instalados no país.
Para Mercadante, apesar das incertezas geradas pela guerra comercial, o momento pode representar uma janela estratégica para o Brasil se reposicionar no cenário global como fornecedor confiável e parceiro comercial atrativo.