O artigo recentemente publicado sobre o jornalista e escritor Carlos Tadeu, pseudônimo de Daniel Fernandes Reis, gerou repercussão positiva entre leitores e admiradores da literatura sergipana. Além da reprodução em um periódico local, o texto rendeu uma entrevista à FM Mar Azul, reacendendo o interesse pela vida e obra de um dos nomes mais sensíveis da crônica regional.
Uma das dúvidas levantadas pelo público dizia respeito ao local de nascimento do autor. O dado biográfico foi confirmado por seu irmão, José Luís Reis: Carlos Tadeu nasceu em Lagarto (SE), em 03 de maio de 1935, embora os pais morassem, à época, em Riachão do Dantas.
Figura marcante pelo olhar humanista e pela capacidade de escutar e traduzir o cotidiano em palavras, Carlos Tadeu dedicou grande parte de sua vida à valorização da cultura, da educação e do povo estanciano. Seu legado literário inclui as obras “Crônicas da Vida” (volumes I, II e III), além dos títulos “A Vida Tem Muitos Lances” e “A Vida É Um Tremendo Mistério”.
O livro Crônicas da Vida III, publicado em 1995, foi relido recentemente pelo autor do artigo, que destacou a sensibilidade das entrevistas presentes na obra. Realizadas com moradores simples de Estância, muitas delas ocorreram na Biblioteca Monsenhor Silveira, em praças ou mesmo nas casas dos entrevistados. O formato era curioso: um caderno de perguntas e respostas, no qual Tadeu incentivava os entrevistados a abrir o coração — não apenas para relatar fatos, mas para compartilhar sentimentos, dores e esperanças.
Com cerca de 200 historietas, o livro é um retrato vivo de personagens que fizeram ou ainda fazem parte do cotidiano estanciano — desde nomes ilustres da política, comércio e cultura local até cidadãos anônimos, cuja importância reside no simples fato de existir e resistir.
Carlos Tadeu enxergava o valor humano mesmo nas figuras mais esquecidas socialmente. Ele acreditava que todo ser humano carrega algo único e digno de ser contado. Seu estilo diferia da crônica factual; em vez de fatos, buscava almas. Em vez de narrativas lineares, escutava os silêncios, os mistérios e os lances da vida.
Nas páginas de Crônicas da Vida III, ele compartilha reflexões bem-humoradas sobre a criação divina:
“As abelhas são uma maravilha, insignificantes na aparência, mas capazes de produzir o melhor alimento da terra. [...] Por amor de Deus, por que criara os ratinhos e também as catendes domésticas?”
Mais do que uma crítica, era a curiosidade de um homem apaixonado pela natureza e pelo mistério da existência. Como ele mesmo deixou transparecer, contemplar o sol, o mar e a noite enluarada já seria motivo suficiente para justificar a vida.
Para José Carlos de Oliveira, economista e amigo pessoal do autor, os livros de Carlos Tadeu devem ser redescobertos em tempos de pressa e distração. Em sua contribuição na orelha do Crônicas da Vida III, escreveu:
> “Esse é o tipo do livro que, como vinho, tem de ser degustado com calma e carinho. Seguramente propiciará sempre um grande prazer ao leitor. Especialmente àquele que, como o sujeito do livro, gosta de gente, da vida, do amor, da esperança e de Deus.”
Carlos Tadeu não apenas escreveu sobre Estância — ele escutou Estância com o coração. E deixou, em suas páginas, um legado de humanidade que permanece vivo.