Mangue Seco é daqueles lugares que parecem ter parado no tempo. Pequena, rústica e encantadora, a vila está localizada na ponta norte da Bahia, no município de Jandaíra, quase na divisa com Sergipe. Para chegar lá, não existe estrada. É preciso espírito de aventura: o acesso se dá apenas por barco, bugre ou veículos 4x4. A travessia mais charmosa parte de Porto do Mato, em terras sergipanas, onde lanchas navegam pelas águas tranquilas do rio Real até o povoado. São cerca de 20 minutos de pura contemplação.
À direita, o rio. À esquerda, o mar. No centro, um pedacinho de paraíso moldado por dunas, lagoas de chuva e um povo simples que vive em harmonia com a natureza. Em Mangue Seco, o cotidiano tem cheiro de maresia, pés descalços nas ruas de areia e sabores que vêm direto do mangue.
O sabor do mangue: aratu, o rei da mesa
Mais do que cenário, Mangue Seco é sabor. E o grande protagonista da culinária local atende pelo nome de aratu — um pequeno crustáceo de cor avermelhada, primo do caranguejo, que reina nos manguezais da região. Com ele, se prepara a famosa moqueca de aratu: um prato típico, feito com carne catada, leite de coco, azeite de dendê, tomate, cebola e um toque de urucum.
Mas não se engane: para servir uma boa moqueca, é preciso paciência. Cerca de 100 aratus rendem apenas um quilo de carne. O trabalho é minucioso, e começa na pescaria, que mais parece um ritual.
Pescaria que é tradição e herança
A coleta do aratu envolve famílias inteiras. Com varas de pesca simples, os pescadores amarram na ponta um pedaço de caju — fruta irresistível para o aratu. Quando o caju falta, entra em cena o “mufada”, uma isca viva feita com pequenos siris. Há quem diga que o segredo está no assovio: o som atrairia o crustáceo, que fisga a isca com suas garrinhas e vai direto para o balde. O processo é lento, silencioso e quase meditativo.
Turismo, sabores e descanso à beira-mar
Quem visita Mangue Seco pode se aventurar em uma dessas pescarias, guiado por moradores locais. As pousadas oferecem passeios de canoa pelos mangues e, claro, pratos fresquinhos à base de aratu, siri azul e caranguejo. Nas barracas da praia, a moquequinha de aratu servida em folhas de palmeira é parada obrigatória.
E depois do almoço, não tem pressa. As redes armadas nas sombras dos quiosques convidam ao descanso, com vista para o mar ou para o rio. A vila é silenciosa, cheia de poesia e beleza natural.
Do anonimato à fama nas novelas
Mangue Seco ficou nacionalmente conhecido após ser cenário da novela Tieta, da TV Globo. Desde então, virou destino turístico, mas sem perder a essência: é um lugar onde o tempo passa devagar, o vento sopra leve e o aratu segue como símbolo da cultura e do sabor local.