O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso no debate digital contra o Congresso Nacional durante a crise envolvendo o decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). É o que revela uma análise recente do instituto Quaest, que monitorou mais de 4,4 milhões de publicações feitas entre 24 de junho e 4 de julho.
Segundo o levantamento, 61% das menções ao Congresso nas redes sociais foram negativas, enquanto apenas 11% dos conteúdos direcionados ao Executivo tinham o mesmo tom. A disputa pelo protagonismo narrativo ocorreu principalmente nas plataformas X (antigo Twitter), Instagram, Facebook, YouTube e sites de notícias.
A hashtag #InimigosDoPovo se destacou no período, com cerca de 300 mil menções. Outras expressões críticas ao Legislativo, como “Congresso da mamata”, também ganharam força. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi citado diretamente em 8% das postagens, mostrando a personalização do descontentamento.
A mobilização digital cresceu após o Congresso derrubar o decreto presidencial que previa aumento do IOF para ampliar a arrecadação federal. O governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, desde então, o debate nas redes se intensificou.
Lula se distancia do desgaste
Diferente de crises anteriores, Lula não foi o principal alvo da insatisfação popular. Ele apareceu em apenas 15% das postagens sobre o tema, sendo 45% positivas, 31% negativas e 24% neutras. Isso indica, segundo a Quaest, que o Executivo conseguiu transferir o desgaste para o Congresso.
“A narrativa digital foi bem conduzida pelo governo, conseguindo transformar o Legislativo no alvo principal das críticas, o que raramente acontece”, destaca o relatório.
Esquerda mais ativa que a oposição
Pela primeira vez em anos, parlamentares alinhados ao governo superaram a oposição no engajamento digital. Eles responderam por 50% das publicações sobre o tema, enquanto a oposição ficou com 31,5%. Até mesmo o número de comentários nas postagens governistas se aproximou do da oposição, mostrando uma disputa mais equilibrada.
Para a Quaest, a estratégia de confronto adotada pela base aliada tensionou a relação com o Congresso, mas fortaleceu a mobilização da esquerda nas redes sociais.
Impacto na opinião pública
O levantamento mostra que a crise do IOF atingiu, em média, 32 milhões de contas por hora. O governo conseguiu manter o foco das críticas no Parlamento, especialmente no presidente da Câmara, Hugo Motta, e evitou um desgaste direto à imagem de Lula.
Especialistas avaliam que essa vitória narrativa demonstra um novo fôlego da comunicação governista em um ambiente digital historicamente dominado por forças conservadoras.